Coliseu é um lugar excitante para a imaginação

Roma é uma grande cidade, mas só a parte histórica nos interessava — o que não nos impediu de gastar a sola do sapato de tanto andar. Visitamos o antigo Senado romano, dezenas de igrejas, portais, ruínas. O trânsito é caótico, mas a região central da cidade tem um toque humano. As grandes responsáveis por isso são as pracinhas. Bastam três ruas se encontrarem para formarem um pequeno largo com fonte, floreiras e mesinhas. E gatos, muitos gatos. A cidade deve ser a capital mundial dos bichanos, que estão em qualquer lugar que se olhe.

Coliseu é um lugar excitante para a imaginação. O tempo levou o chão da arena, o que permite ver todo o sistema de túneis e masmorras que ficava subterrâneo. Pensei em quantas vidas acabaram ali e no prazer sádico da plateia, que se reunia aos milhares para ver sangue. Pude ver as pessoas gritando, leões urrando, gladiadores se consagrando diante de imperadores.

É curioso estar no lugar exato em que muitas coisas aconteceram no passado remoto. Isso tornou mais concreta para mim a história que aprendi no Santa Úrsula, escola tradicional de Ribeirão Preto, em que estudei durante 13 anos. Dá também a sensação exata dos limites do homem no tempo. A estrutura do Coliseu está longe de ser indestrutível. Seu estado ruim comprova. Mas muito mais efêmeros foram os homens que passaram por ali, seja na arena, seja nas masmorras, seja na tribuna de honra. Mais uma boa olhada geral em tudo e eu estava pronto para ir embora.

Na saída, aconteceu de novo — as ciganas. Agora eram em maior número e não cederam aos meus gritos. Tentaram aplicar o velho golpe do jornal. Elas se aproximam pedindo dinheiro, oferecendo correntinhas, mais de uma ciganinha por vez. Falam muito, todas juntas, criando tumulto. Sempre trazem um jornal, cartaz ou cartolina na frente, na horizontal, encostando no corpo da vítima.

Na confusão, o incauto limita-se a negar o dinheiro ou a compra, sem perceber que, sob o jornal, as mãos rápidas das ciganas estão trabalhando. Tive que abrir meu caminho para fora de seu cerco aos empurrões. “Por que você fez isso?”, perguntou Leonardo, achando que eu tinha passado dos limites.

Expliquei que muitos viajantes me alertaram de que elas são rápidas e eficazes na hora de bater nossa carteira. Ele não pareceu satisfeito com a explicação. Pois foi fazer cara feia e uma cigana mais velha nos chamou. “Tome, você deixou cair sua calculadora”, disse, entregando ao meu companheiro a maquininha de calcular que já tinha nos prestado bons servidos.

Ele mal pode acreditar. Sem que percebesse, as ciganinhas tinham surrupiado sua calculadora. Agora, ela vinha nos devolver por medo de que voltássemos ou esperando alguma recompensa.  A cigana ganhou um “grazie” amarelo e meu parceiro, uma bela lição.

Cidade na Itália

Roma 

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