Saímos às 9h25. Foi o motorista quem puxou assunto:
— Meu nome é Eyad Shibli e sou beduíno. Já ouviu falar da gente?
— Claro, mas sei pouco a respeito do seu povo.
Tendo como pano de fundo o som de música árabe, falamos de culturas e costumes, ele demonstrando bom humor.
— Vivemos no deserto desde a época de Abraão. Somos árabes muçulmanos que desejam preservar antigos modos de vida.
Suas histórias sobre o deserto eram fantásticas, aguçando minha curiosidade.
— Nossa rotina é cruzar as fronteiras dos estados do Oriente. Moro num vilarejo perto de Tiberíades. Os beduínos mais típicos, porém, estão no Norte, nos desertos. Nós respeitamos as tradições.
— Como assim?
— As leis que governam hoje nossa sociedade são idênticas às de Moisés. Os tipos de roupa, a alimentação e os costumes quase não mudaram desde os tempos bíblicos. A criação de animais domésticos, principalmente camelos, ovelhas e cabras, é a ocupação principal.
— Cabras?
— É. Vagamos de um lugar para o outro em busca de novos pastos para as ovelhas e cabras. Com a lã, tecemos tendas e tapetes, que são comercializados em aldeias próximas. A lavoura não é a fonte de renda prioritária, porque a falta de bom solo e de água de chuva não contribui para o desenvolvimento das colheitas.
A cada informação, ficava mais impressionado. Percebendo a minha admiração, Eyad prosseguiu:
— Ao nos reunirmos nas tendas, botamos para fora nosso talento de contadores de histórias, enquanto moemos e servimos café. Essas histórias são passadas de geração em geração, contendo lições de honra e felicidade para as crianças.
— E quantos anos você tem? — perguntei.
— Vinte e oito.
O sol estava forte no céu sem nuvens. Como no desvio não passava ônibus, a única opção era pegar uma carona para Tiberíades.
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